Banana de Corupá
Cultura Empreendedora Corupá / SCO cultivo começou com o seu pai, que plantou 3 mil pés na década de 1970. Hoje são 40 mil, produzindo a fruta com qualidade reconhecida pelo selo de Indicação Geográfica.
O Sebrae nos traz a expertise de empreender. O pequeno agricultor sabe produzir da porteira para dentro. O Sebrae nos capacita e nos torna fortes para sermos competitivos na venda dos nossos produtos.
Uma das primeiras lembranças que Eliane Müller tem de sua infância na zona rural de Corupá (SC) é de andar de zorra, um trenó puxado a cavalo que desliza na terra. O percurso era feito dentro da plantação de banana na propriedade de seu pai, que usava o veículo para transportar a fruta plantada em terreno montanhoso, aonde só a tração animal conseguia chegar.
A própria origem de Corupá se confunde com a história de sua família, uma das pioneiras na colonização da cidade que escolheram para morar em 1913, quando vieram da Alemanha. Até hoje, os familiares vivem no mesmo lote que compraram quando começaram a cultivar produtos para a subsistência, como laranja, café e tabaco, além de criar animais. Seu pai, que já havia servido ao exército e sido um dragão da independência em Brasília, retornou à cidade em 1978 e começou a plantar banana por sugestão de um amigo.
“A ideia dele era aproveitar o apoio do governo do estado, que disponibilizou extensão rural, e plantar com tecnologia. Ele começou com 3 mil plantas. Mas no começo tudo era muito difícil, tinha a terra e nada mais que isso. Ele começou a abrir estrada, buscou tecnologia de mudas, participou de congressos e eventos para se aperfeiçoar.”
Outro passo importante que seu pai deu rumo à qualificação da produção foi montar uma packing house, ou seja, uma casa de embalagem onde as frutas são recebidas e embaladas antes da distribuição ao mercado.
Como somos pequenos produtores, todo produtor vendia direto para os comerciantes, que faziam essa etapa. Então ele começou a embalar a banana sozinho e agregou valor ao produto, parando de depender dos comerciantes para isso.
Desde pequena, Eliane participava dos mutirões que os pais faziam com os vizinhos para ajudar no plantio e colheita. Mas foi só em 2004 que ela começou a se dedicar profissionalmente à produção, depois de ter deixado a cidade para estudar ciências biológicas. “Um funcionário estava saindo da associação, então meu pai me chamou de volta porque ele precisava de mim. Hoje divido meu trabalho na produção e na associação, que foi criada há 26 anos. Além de assistência técnica, é um apoio mútuo. Fazemos, por exemplo, compras coletivas com menor preço para os produtores.”
Na associação, Eliane resolveu que iria trabalhar para mudar a situação da região e colocá-la em evidência. Como por lá os produtores plantam a banana em terreno montanhoso, a cerca de 450 m acima do nível do mar, as plantas pegam menos sol e passam por um processo de escurecimento da casca, o que fazia o produto perder certo valor de mercado. Porém, apesar da casca, um pesquisador que esteve na região constatou que a banana de lá era a mais doce do Brasil.
“A partir desse momento, começamos a trabalhar com a comunidade. Da casca escura para a banana mais doce do Brasil. Isso foi um processo de 14 anos. Por que levou tanto tempo? Porque tínhamos que mudar a cabeça do produtor que aceitava ganhar menos por não acreditar que a nossa fruta tinha o mesmo valor.”
Em 2012, participando de um evento de fruticultura em Brasília, Eliane conheceu uma consultora do Sebrae que fazia um trabalho de valorização do melão e que também se interessou pelo caso da banana de Corupá. “Ela me falou: o Sebrae vai te visitar. E veio mesmo, pesquisou quais produtos catarinenses eram passíveis de Indicação Geográfica. Ficamos entre os três primeiros.” Assim, começou em 2014 o processo de certificação da banana da região, para o reconhecimento da qualidade do produto, vinculada à sua origem.
O Sebrae nos emprestou os olhos, ouvidos e a expertise do empreendedorismo para a gente chegar à Indicação Geográfica. Ele nos abriu os caminhos, feito um pai que carrega. E como nós já tínhamos uma identidade visual da associação e o lema ‘Doce por natureza’, já estávamos a meio caminho andado.
Eliane diz que o primeiro dos benefícios da Indicação Geográfica é a valorização do trabalho das famílias, que já acumulam mais de cem anos de produção agrícola, o saber fazer, em relevo montanhoso. “O consumidor vai encontrar no mercado a banana mais doce do Brasil e vai ver essa diferença. A IG atrela à nossa fruta o controle de origem, com qualidade única e exclusiva para o consumidor, e nos proporciona novos mercados e mais visibilidade no Brasil e no mundo.”
Hoje, a propriedade de Eliane tem 40 mil pés de banana plantados, e são colhidas, em média, 1,1 mil toneladas da fruta por ano. Ela diz que o reconhecimento do valor da banana de Corupá beneficiou toda a região, hoje rica em agroindústrias, o que fez aumentar significativamente o número de empregos e renda. “Quando mexemos com o orgulho, desenvolvemos a criatividade. Antes tínhamos chip, passa e geleia de banana. Com a IG, veio a biomassa de banana. Temos também uma agroindústria que faz panificação para merenda escolar, farinha de banana verde. Lançamos um festival gastronômico, concurso de cucas de banana, e há produtores que usam a fibra da bananeira para artesanato, calçados e biojoias. E agora tem até o inovador ketchup de banana.”