Urucuna
Inovação & Tecnologia Boa Vista / RRJuntas elas comandam a Urucuna e empreendem em parceria com pequenos artesãos, populações tradicionais e indígenas do Brasil
“Em meados de 2019 eu estava totalmente desconectada com o mundo corporativo e tentando encontrar um sentido pra minha vida. Foi quando decidi viajar para o Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira (AM), para tentar me reconectar com a minha essência. E lá encontrei muito mais.”
Convivendo desde a infância com a natureza, as comunidades tradicionais e povos indígenas por causa do trabalho do pai, Júlia Ferreira Tatto não pensou duas vezes em se “refugiar” em um local familiar em busca de um novo sentido para a vida pessoal e profissional.
Mas o que era para ser somente um destino relaxante e pra espairecer, se tornou um propósito de vida. “Em cada lugar que eu visitava, ouvia sobre garimpo ilegal, queimadas, grilagem, atentados à vida, discriminação e desmatamento. Então, no último dia de viagem, me convidaram para conhecer a nova loja de artesanatos da FOIRN, a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro. Quando vi todos aqueles produtos, me apaixonei. Queria levar todos para casa e poder ajudar aquela gente”.
Decidida a mudar os rumos da sua história e daquela comunidade, a empresária conversou com a irmã e juntas decidiram que era hora de empreender. “Quando estava no Amazonas, fiquei angustiada com aquela situação e assim que voltei pra São Paulo contei para minha irmã a ideia sobre uma loja e ela topou na hora.”
Para economizar e investir na loja, Júlia voltou a morar com os pais, começou a comprar os artesanatos e a estocá-los. Um ano após a abertura e com problemas financeiros por causa da dificuldade de vender os produtos durante a pandemia, a loja quase quebrou. Foi então que elas tiveram uma nova ideia. “Como sempre trabalhamos com comércio ético, pagando antecipadamente os artesãos e precificando em somente 30% do preço de custo, acabou gerando problemas de fluxo de caixa na empresa. Para resolver essa situação, decidimos desenvolver uma linha própria de produtos pra que pudéssemos aumentar a margem de lucro, a frequência de compra, o número de clientes e que também facilitasse a atuação no modelo B2B. Assim, foi possível aumentar o ticket médio por cliente, cobrir os custos da empresa e manter o impacto socioambiental positivo”.
A criação do “Cheiros da Floresta” foi um investimento certeiro da dupla. Elas passaram a trabalhar com a Cadeia de Valor de Produtos Florestais Não Madeireiros da Amazônia, por meio de velas artesanais e aromatizadores de ambiente, 100% naturais, produzidos com bioativos de cooperativas extrativistas de manejo sustentável da Amazônia. “Por quase dois anos, produzimos as velas na cozinha de casa. Chegamos a fabricar mais de 2 mil velas em um mês. E deu certo. A linha Cheiros da Floresta aumentou o faturamento da empresa”.
Com o sucesso da produção, Júlia percebeu que era possível unir os dois mundos: produzir velas e home sprays, fortalecendo a cadeia de óleos vegetais da Amazônia, e co-criar embalagens artesanais com povos indígenas, fortalecendo a cadeia de valor do artesanato. “Essa parceria gera mais renda para as comunidades, além de contribuir com um papel importante na cadeia ao agregar valor aos produtos e à bioeconomia circular amazônica. Com isso, também atuamos como uma ponte para que os clientes entrem em contato direto com os povos tradicionais, conheçam sua cultura e se engajem na luta por seus direitos”.
Amazônia. O Inova me mostrou caminhos e possibilidades que eu nunca havia imaginado, expandiu a minha mente, me tirou da zona de conforto e me ensinou sobre a vida muito mais do que qualquer universidade”.
E todo esse aprendizado surtiu efeito! A Urucuma se tornou a primeira marca de Aromas de Ambiente a receber o Selo Origens Brasil, uma rede formada por povos indígenas, populações tradicionais, instituições de apoio e empresas que atuam pela conservação da Amazônia, gerando valor para a floresta em pé e para os povos que vivem dela.
“Estamos muito felizes com o resultado do nosso trabalho. Além de inovar em bioeconomia e co-criar produtos com povos indígenas, sempre respeitando o modo de vida tradicional, desenvolvemos uma metodologia de trabalho em que se utiliza bioeconomia circular, usando ativos que seriam descartados. “Para criar uma vela aromática, por exemplo, usamos o caroço e a manteiga tucumã, já que somente a polpa é utilizada para consumo”.
Para o futuro, as empreendedoras pretendem expandir e se consolidar como referências em aromas naturais no mercado nacional e exportar os produtos para fora do Brasil. “Queremos cada vez mais expandir as nossas vendas. Já fizemos as primeiras exportações para França, Alemanha, Estados Unidos e queremos mais, claro. É satisfatório poder empreender, contribuir para a salvaguarda e difundir a cultura do patrimônio imaterial desses povos, atuando com a cadeia de valor do artesanato, decoração e bem-estar”.