SEBRAE

Bordado Filé

Cultura Empreendedora Maceió / AL
Petrúcia viu dobrar o valor do seu trabalho artesanal

Ela começou a bordar na adolescência, mas passou a ser até duas vezes mais bem remunerada depois que o Bordado Filé foi reconhecido pela sua qualidade e particularidade de origem. Segundo a artesã, o Sebrae teve papel fundamental na valorização do produto.

Leia a história da Petrúcia
O Sebrae é como uma grande biblioteca que a gente pode acessar quando precisa de conhecimento para melhorarmos enquanto produtores e empreendedores. Nem sei como faríamos sem o Sebrae.

Quando se mudou para a capital Maceió (AL), partindo ainda adolescente de Lagoa da Canoa (AL), “terra de Hermeto Pascoal”, como ela define a cidade onde nasceu, Petrúcia Lopes foi morar em um bairro encantador: Pontal da Barra. O cenário é paradisíaco. De um lado, o mar de um azul impressionante da Praia do Pontal. Do outro, as belas e calmas águas da Lagoa Mundaú, de onde muitos moradores tiram seu sustento, seja da pesca ou de passeios de barco.

Mas, além da paisagem, outra particularidade do bairro a encantou especialmente: a cultura do artesanato, que estava por toda parte. Nas ruas estreitas do Pontal, os moradores fazem da parte da frente de suas casas charmosas lojinhas com os mais diversos produtos feitos pelas artesãs e artesãos de lá.

Não demorou para que ela fizesse amizade com as jovens artesãs. Petrúcia já sabia bordar o ponto cruz e outros pontos que a sua mãe havia lhe ensinado e não demorou para aprender um bordado muito tradicional, que só existe naquela região das Lagoas Mundaú e Manguaba: o Bordado Filé.

O nome não está relacionado à carne. A origem vem do francês “filet”, que quer dizer “rede”. E o bordado é feito em uma rede que vai sendo preenchida com pontos feitos de linha com agulha em madeira. O colorido intenso e a complexidade dos pontos são algumas das principais características desse artesanato, que foi levado pelos portugueses para a região ainda durante a colonização. Nessa região da costa brasileira, a técnica tornou-se ainda mais rica ao incorporar saberes e materiais indígenas, ganhando características ainda mais especiais e particulares.

Petrúcia até tentou resistir a esse mundo de cores, pontos e telas do Bordado Filé e fez um curso de eletrotécnica. Mas aquele não era seu caminho. Assim, como não havia o curso de design de moda em faculdade pública, decidiu cursar design de interiores, o que abriu novas possibilidades no artesanato.

Apliquei os conhecimentos no Bordado Filé, vi que poderia fazer produtos com design, trabalhar melhor as cores. Comecei a me inteirar de tendências, ver desfiles de moda, comprar revistas. Assim melhorei meu trabalho e me diferenciei no mercado. O TCC do curso foi o projeto da loja que eu abri, a Artes da Terra.

 

Trabalhando no mercado, ela se formalizou como MEI e passou a participar de associações de artesãs. Foi assim que, em 2009, ficou sabendo do chamamento público do Sebrae direcionado às profissionais da região para falar sobre a possibilidade de o trabalho delas, especificamente o Bordado Filé, fosse reconhecido com o selo de Indicação Geográfica. É um registro emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) a uma região vinculada à qualidade e a características de um produto ou serviço.

Eu fiquei logo encantada com a ideia, porque ali já vislumbrei a grande oportunidade que seria. Então, durante quatro anos, nós, artesãs, participamos de muitas oficinas realizadas pelo Sebrae. Aprendemos sobre cooperativismo, associativismo, precificação, entre outros assuntos. Foram estabelecidos os padrões para que o bordado fosse certificado, e também tivemos oficinas de salvaguarda do Bordado Filé, de como ele era feito tradicionalmente e como melhorar a qualidade do trabalho, seguindo a tradição.

Assim, depois da qualificação e assistência técnica do Sebrae, a Região das Lagoas Mundaú-Manguaba foi reconhecida como Indicação Geográfica pelo Bordado Filé. Para isso, elas criaram o Instituto Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú Manguaba (Inbordal). Petrúcia diz que um dos maiores ensinamentos que as artesãs aprenderam com o Sebrae nesse processo foi a importância da união entre elas.

“Mostrou que juntas somos mais fortes. Aprendemos que trabalhar em equipe aumenta a produção, e com essa troca de informação entre a gente fica mais fácil fazer tudo: embalar, catalogar, enviar o produto.”

As profissionais passaram a receber de acordo com o que produzem, e o instituto criou uma tabela para que elas sejam remuneradas de acordo com a complexidade de cada ponto do Bordado Filé. Além disso, houve um incentivo a novas artesãs que se interessaram pelo bordado, e aumentou a procura pelo produto. O resultado foi o desenvolvimento da região, beneficiando outras atividades, como o turismo.

Petrúcia diz que o selo de Indicação Geográfica deu aos produtos delas um diferencial muito importante e, com isso, uma melhor valorização financeira, já que eles são vendidos por até duas vezes mais que os bordados das artesãs não certificadas. Hoje, além de Alagoas, os produtos estão presentes em diversas lojas no Brasil.

Quando a pandemia chegou, o instituto ficou três meses parado, mas as profissionais se organizaram para contornar a situação. Passaram a vender os produtos pelo Instagram, elaboraram uma tabela de varejo e procuraram auxílio no Sebrae. Por meio da parceria com o órgão, fizeram cursos sobre marketplace, marketing digital, WhatsApp Business, entre outros. Foi um sucesso de vendas, e logo as encomendas se normalizaram.

Por isso, está entre os planos para este ano fortalecer ainda mais a presença digital do instituto. Outra prioridade é treinar as artesãs para que elas possam alimentar o sistema de rastreabilidade dos produtos feitos com Bordado Filé, ferramenta desenvolvida em parceria com o Sebrae. Até já foram comprados um computador e uma impressora térmica para confeccionar as etiquetas com as informações de origem e um QR code que direciona ao site do instituto, em que consta o nome da artesã que o bordou, além de outros dados técnicos do produto.

“Isso vai aumentar tanto a autoestima das artesãs. Elas fazem esse produto, e ninguém sabe quem fez. Agora as pessoas vão saber. Você imagina o que essa artesã vai sentir quando o comprador do produto que ela fez passar a conhecê-la pelo nome? Eu sinto muito orgulho e acho que todas vão sentir também.”

Essa história continua. Siga nas redes:

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