SEBRAE

Agrow Vertical

Inovação & Tecnologia São Luís / MA
Plant factory de Paulo inova produção de hortifrutis no Brasil

Startup propõe produzir 13 toneladas de morango ao ano em 60 metros quadrados e reduzir o desperdício de alimentos no país.

Imagine: minha startup estava andando de rodinhas e, quando eu fiz a parceria com o Sebrae, foi como se eu tivesse colocado um propulsor a jato. A gente começou a decolar.

Criado na Zona Rural de Pernambuco, em Custódia, Paulo Alexandre Fernandes sempre teve afinidade com a área de Ciências Agrárias. Prova disso é que na juventude ele se mudou para o Distrito Federal para estudar em um colégio agrícola, e a paixão continuou na graduação em Agronomia e no mestrado e doutorado em Produção Vegetal pela UNESP.

“Mas eu percebi em São Paulo, durante o meu doutorado, que passei a vida toda sendo moldado para ser um pesquisador e docente”, contou Paulo. Em meio à rotina acadêmica, ele percebeu como sentia falta de uma aplicação prática além da teoria. Com a vontade de mudar a realidade ao seu redor, teve a ideia de abrir uma startup.

Após vários estudos e pesquisas, Paulo percebeu que, junto à urbanização, cresceram o senso de consumo consciente e a demanda por alimentos de qualidade, mais frescos, nutritivos e com zero agrotóxicos — sendo a pandemia de covid-19 um fator relevante para essa mudança de hábito.

Paulo também percebeu que as mudanças climáticas e o transporte de alimentos hortifrutis em um país com dimensões continentais como o Brasil se tornaram ameaças à segurança alimentar em um futuro ainda mais urbanizado.

O agravante é percebido principalmente no Norte e no Nordeste do país, onde os produtos chegam com baixa qualidade devido às condições precárias de transporte, o que contribui para o desperdício de, em média, 50% dos alimentos. Ou seja, boa parte do que é produzido acaba indo parar no lixo. 

A Agrow Vertical surgiu com o objetivo inicial de solucionar problemas da cadeia de produção do morango, com foco em otimizar a logística e a produção, diminuindo as distâncias entre o campo e o consumidor final. “Queremos ser a primeira startup a produzir morangos frescos em escala vertical na América do Sul.”

De acordo com Paulo, o centro de produção do morango nacional concentra-se principalmente no Sul e Sudeste do Brasil, e, para abastecer o país inteiro, o fruto é colhido com 50% de maturação (pequeno, com aspecto esverdeado e sabor azedo). Quando chega ao consumidor final, o produto tem um curto prazo de prateleira, gerando muitas perdas: “Tudo isso é ocasionado pelo excesso de intermediários na cadeia de produção e o transporte de longas distâncias”, reforça Paulo. 

Dentro da sede da startup, existe toda uma tecnologia de cultivo indoor para produzir morangos frescos durante o ano inteiro em plena cidade grande. Para assegurar a produção em quantidade e qualidade previsíveis, Paulo realiza o controle das variáveis ambientais para criar o clima perfeito (temperatura, umidade, intensidade do vento) usando luz artificial para simular a luz solar e a fertirrigação, que propicia a economia de 95% de água e usa 70% menos adubo químico.

A nível máximo, a startup consegue produzir 100 vezes mais que o ambiente de cultivo convencional. 

“No Brasil, a média de produção em 10 mil metros quadrados é de 35 toneladas. O que a gente propõe é produzir 13 toneladas em 60 metros quadrados, com colheitas semanais de produtos frescos e naturais, algo relevante, visto que o morango é o segundo no ranking da ANVISA todos os anos entre as hortícolas que apresentam níveis impróprios de agrotóxicos”, conta o empreendedor. 

A previsão é que o método torne possível produzir morangos por três anos ininterruptos, e a ideia é que essa tecnologia possa inovar a produção em escala do setor morangueiro no país, pois, atualmente, pode-se obter produções durante 18 meses seguidos na Serra Gaúcha do Rio Grande do Sul devido ao clima favorável. 

Atualmente, a Agrow Vertical atende a um público específico, formado por empórios gourmet, confeitarias e restaurantes: “A gente tá com essa estratégia para monetizar mais rapidamente”. O contato com a clientela é altamente personalizado, sendo feito pelo WhatsApp ou por ligação, mas a meta é também lançar um site para inserir um programa de assinaturas (compra recorrente) e o e-commerce. 

A startup também é um exemplo de impacto positivo no meio social, ambiental e econômico. Não foi somente por estratégia econômica que Paulo decidiu sediar a startup na periferia de São Luís, no Maranhão, em uma comunidade que vive com muitas dificuldades. Lá, ele alugou um prédio totalmente degradado. 

Com o objetivo de integrar os moradores do entorno e gerar emprego e renda, ele pôde contar com o apoio das pessoas da comunidade para revitalizar o imóvel.

No futuro, a expectativa é expandir a Agrow Vertical alugando outros prédios em comunidades diferentes, implantando a produção de outras hortícolas, como vegetais folhosos, tubérculos e frutos.

Para dar vida a um negócio inovador e transformador, Paulo se aliou a suas sócias — Janaína Mondego (Doutora em Fitossanidade e Diretora de Sanidade Vegetal) e Thaís Roseli (Doutora em Biotecnologia e Diretora de Desenvolvimento Vegetal) — e amadureceu a ideia através do Programa Centelha, voltado para a criação de empreendimentos inovadores.
A história da Agrow Vertical cruzou com o Sebrae quando Paulo se mudou para São Luís em busca de uma bolsa de pesquisador para trabalhar com certificações, como o selo de Indicação Geográfica do Abacaxi de Turiaçu. Em meio ao contato constante com instituições como a Embrapa e o Sebrae, interessou-se pelo Sebraetec e pelo Inova Amazônia.

O Inova Amazônia foi tão importante que propiciou um convite em 2022 para participar do Bossa Summit na capital paulista, o maior evento dedicado a startups e investidores da América Latina, chamando a atenção de tudo que é mídia. A gente deu entrevista para TV, gravou vídeos, fomos convidados a dar palestras… O programa alavancou a nossa startup, sem dúvidas foi um diferencial.

Além de obter o aporte necessário para acelerar o negócio através do Inova Amazônia, ele destaca outros projetos, como a parceria Sebrae e CNPq, o Finep, Fapema e Startup Nordeste como grandes aliados. “O Sebrae está se tornando nosso principal parceiro”, completa.

Em até um ano e meio, Paulo pensa em entrar de vez no mercado internacional, que preza por produtos saudáveis e livres de agrotóxicos, mas antes deseja expandir sua empresa para outros pontos estratégicos espalhados pelo Brasil, difundindo saúde, sabor e inovação.

A startup almeja usar estrutura de containers de navios e, dentro deles, inserir a tecnologia para criar pontos de distribuição para atender diretamente ao consumidor final, sem intermediários, reduzindo preços e elevando o acesso e consumo per capita no Brasil.

Paulo também tem a expectativa de obter a certificação Brasil Certificado e explica a razão: “Ele tem credibilidade porque é enviado pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e Inmetro”. Outro objetivo é contratar mais profissionais com a bolsa concedida pelo Sebrae.

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