Projeto Ifish
Cultura Empreendedora Macapá / APA professora Lídia Dely conta como transformou um curso técnico em Mineração num projeto inspirador que promove sustentabilidade e educação empreendedora.
A grande quantidade de ossos e espinhas de peixe jogada no lixo em feiras e vendas de Macapá motivou alunas do curso de Mineração do Instituto Federal do Amapá (IFAP) a reaproveitar o material orgânico com biojoias.
Tudo teve início em 2017, quando a professora Lídia Dely, do curso de técnico em Mineração, recebeu um convite de uma colega para participar de um projeto sobre aproveitamento da carne do peixe. Confusa por não ser da área de alimentos, ela decidiu tentar assim mesmo.
Encantada pelo o assunto, aprofundou suas pesquisas e descobriu a hidroxiapatita 一composto usado na produção cerâmica. “Vi uma patente que usava o osso do peixe para fabricação de próteses medicinais e, pensando nisso, eu disse: ‘vamos ver como utilizar os ossos dos peixes da Amazônia na produção de joias’”, conta.
Em vista disso, o projeto sustentável começou a ser desenvolvido sob sua coordenação. “O processo produtivo ia desde a coleta nas feiras até o controle de qualidade. Assim, muitas temáticas eram levadas em conta, como questões ambientais, socioeconômicas, mulheres na ciência e empreendedorismo.”
O processo de montagem da massa é feito por etapas que incluem o superaquecimento das matérias para extração da hidroxiapatita, que, além de reduzir a contaminação pelos restos de peixe, fortalece o composto cerâmico. Em seguida, já com a cerâmica, as estudantes dão forma aos itens, confeccionando colares, pingentes, pulseiras, entre outros.
Lídia ainda conta que, desde o início da criação das joias, ela já pensava nos custos e na comercialização. “Era um projeto bem amplo, as alunas conheceram uma nova realidade e aprenderam novas técnicas que demandaram muito estudo e muita prática.”
O resultado não poderia ter sido melhor: a iniciativa ganhou admiradores por onde passou e ainda conquistou clientes numa feira de cooperativas em Macapá. “Para divulgar o projeto, usamos as redes sociais e também participamos de feiras de ciências e congressos. As peças chamavam muito a atenção, pois tinham características únicas, com o DNA da Amazônia”, conta Dely.
Lídia viu o potencial do projeto e seu impacto positivo na comunidade e decidiu inscrevê-lo no Prêmio de Educação Empreendedora de 2019. A conquista do terceiro lugar fez com que ela refletisse sobre a importância da educação empreendedora.
O prêmio do Sebrae demonstrou como esse processo foi bem-sucedido e como o olhar empreendedor deve ser desde o início. As alunas terem essa vivência ainda no ensino médio é muito significativo e mostra que elas têm alternativas.
Para o futuro, Lídia já tem um novo projeto em desenvolvimento. “Após muita pesquisa, eu e a alunas descobrimos que o caroço de açaí já é utilizado como combustível e adubo. A partir daí, surgiu a ideia de usá-lo na produção de café, já até compramos o material para dar início.”