Mulheres de Obra
Cultura Empreendedora Aracaju / SECom o apoio do Sebrae, o negócio se estruturou, cresceu 65% nos últimos anos e acabou de vencer a licitação de uma importante obra do governo de Sergipe.
Quem quer empreender deve procurar o Sebrae, porque lá vai ter todo o suporte. Para quem já empreende e quer crescer, o Sebrae dá todas as ferramentas e o conhecimento necessário.
Desde criança, a engenheira civil, técnica em edificações e mestre de obras Rafaela Suzane Viana gostava de fazer serviços de casa, como trocar lâmpadas, fazer instalações elétricas e consertos em geral. Durante sua adolescência, ela morava com a família em Maruim (SE) quando o rio Ganhamoroba, que passa pela cidade, transbordou. A enchente atingiu sua casa, destruindo todos os móveis.
Com a perda de tudo que estava dentro de sua casa, ela teve de passar a dormir apenas com um colchão no chão. Foi então que sua vocação para a construção civil se confirmou. Cansada de dormir no chão e com a ajuda dos amigos e vizinhos, que doaram de material de construção, ela mesma construiu uma cama de alvenaria no seu quarto e resolveu o problema que tanto a incomodava.
Anos mais tarde, já adulta, separada do marido e com dois filhos para criar, estava procurando emprego quando surgiu a oportunidade de trabalhar em Aracaju (SE), a 43 km de distância, como servente de pedreiro.
“Nesse emprego, eu fazia rejunte, reboco, limpeza. Eu era muito boa, batia metas, era rápida, limpa, sempre ganhava bônus. Então percebi que era aquilo mesmo que eu gostava de fazer. Aí comecei a buscar cursos, como o NR 35, para trabalhar em altura, curso de eletricidade. Também fiz curso técnico de edificações, quando consegui estágio em uma empresa de pintura.”
Foi a partir dessa experiência do estágio que Rafaela percebeu como havia poucas mulheres no ramo. Ela, sozinha, era responsável por 27 pintores homens. Ao todo, na empresa, eram seis mulheres e 280 homens.
Eu cobrava muito os funcionários homens, e eles ficavam sempre de cara fechada. Um dia, eu peguei o material, comecei a pintar uma porta e gostei. Disseram que meu acabamento estava perfeito. Aí acendeu uma lâmpada na minha cabeça: eu consigo fazer, e isso é bacana.
Ela seguia trabalhando na mesma empresa há dois anos quando uma amiga a convidou para assistir a uma palestra do Sebrae sobre empreendedorismo feminino. Rafaela diz que essa experiência foi um divisor de águas para a sua vida profissional, que a motivou a tomar novos rumos.
“Eu saí dessa palestra transformada, com a certeza de que iria montar o meu próprio negócio. Nessa época, eu já estava casada novamente e falei para o meu esposo que ia pedir demissão e abrir uma empresa. Ele falou que eu estava doida, porque eu não sabia o que era ter uma empresa. Mas eu disse: vou aprender. E pelo que a palestrante tinha falado, eu entendi que poderia, sim, empreender.”
O primeiro passo foi pedir ao seu patrão que a demitisse para que ela recebesse o dinheiro da rescisão do contrato. O segundo foi abrir um CNPJ, o que foi fácil, já que desde a palestra Rafaela frequentava o Sebrae com assiduidade e, segundo ela, contava com apoio para tudo que precisava.
“Minha ideia, desde sempre, foi abrir uma empresa de pintura que contratasse mulheres. Com CNPJ aberto, voltei ao Sebrae, e o consultor perguntou se eu tinha condição de já começar a oferecer o serviço. Disse que sim. Então ele falou para eu abrir uma conta no Instagram e começar a divulgar. Criei, e assim nasceu minha empresa, a Mulheres de Obra, em 2018.”
Logo em seguida, surgiu a primeira demanda: pintar um apartamento. Para ajudá-la, Rafaela chamou sua irmã, que não tinha experiência alguma com o trabalho. O pagamento foi pouco, R$ 300, que mal deram para pagar a alimentação durante os 15 dias do serviço, tempo maior do que o normal devido à pouca prática da ajudante. Porém, o resultado não poderia ter sido melhor. O cliente adorou e imediatamente indicou a empresa para outro serviço.
“Esse segundo cliente também ficou muito satisfeito e nos indicou para uma construtora. Era uma obra enorme, de um prédio. Tive de contratar funcionárias, treiná-las. Chegou então a responsabilidade, de fato, de ter uma empresa. Deu tudo certo, entregamos o serviço, e o cliente gostou muito. Ganhamos muita visibilidade, porque era uma obra na esquina e a gente trabalhava uniformizada, todas vestidas de uniforme rosa, em uma avenida muito movimentada. Até uma equipe de TV foi lá fazer reportagem com a gente.”
A partir de então, a empresa deslanchou, e o relacionamento com o Sebrae foi se estreitando. A empreendedora destaca que teve consultorias de gestão financeira, atendimento ao cliente e participou dos programas ALI [Agente Local de Inovação], Brasil + e Sebrae Delas. Este último ela considera ter sido fundamental tanto para a empresa quanto para ela como empresária.
É um projeto maravilhoso, porque reúne várias empreendedoras, e a dor que uma está passando é a mesma que outra já passou, então cria uma rede de apoio mútuo muito importante. A gente se ajuda muito. Já passei por vários momentos difíceis em que eu pensei em desistir, mas o apoio do Sebrae foi muito importante para seguir em frente. O Sebrae teve um papel muito importante na minha história e na história do meu negócio. Antes da pandemia, meu casamento ficou ameaçado de tanto que eu participava do Sebrae, todos dias. E ainda não fiz, mas pretendo fazer o Empretec.
Hoje, a empresa Mulheres de Obra conta com 12 funcionárias contratadas e outras seis em treinamento. Rafaela diz que faz questão de colocar metas de faturamento e tem conseguido batê-las sempre. Ela estima que, nos últimos anos, o negócio tenha crescido 65%. E deve crescer ainda mais, já que recentemente foi vencedor de uma grande obra do governo de Sergipe.
Mas a empreendedora ainda não está satisfeita e pretende ampliar ainda mais o negócio, expandir o serviço para outros locais e dar oportunidades para um número ainda maior de mulheres.
“O sonho que grita no meu coração é escalar o meu negócio, para que em cada estado eu tenha uma filial. Já até apareceram interessados em ser franqueados. E, para isso, estamos fazendo um plano de negócios com o Sebrae. Não conheço outra empresa 100% feminina que preste serviço para grandes obras, pelo menos aqui no Nordeste. Tem muita obra sendo feita, e quero muito treinar mais mulheres para trabalhar nessas obras. Transformar não só os lares, mas as vidas das nossas colaboradoras.”
Para o futuro, ela também tem claro o que espera para sua vida e para sua área de atuação profissional.
“Pelos próximos 50 anos, eu espero enxergar uma realidade diferente para as mulheres no canteiro de obras, que elas sejam protagonistas de sua história e, consequentemente, tenham uma presença maior nesse ramo.”