imperatriz doces finos
Cultura Empreendedora Pelotas / RSA empresária tem 4 lojas na cidade e fornece para mais de 30 pontos de vendas no Paraná, São Paulo e Santa Catarina
A minha faculdade foi o Sebrae. Foi lá que eu aprendi tudo, muito mais do que na universidade mesmo. Por isso, sempre incentivo meus funcionários a fazer cursos no Sebrae.
A vontade e determinação de ter uma vida diferente daquele momento adiante eram a principal certeza de Maria Helena Lukbe quando se mudou da zona rural para a cidade de Pelotas (RS). A situação não era das melhores. Casada, morando de aluguel, sem emprego e sem experiência, não lhe restava muito a fazer senão começar a estudar para que no futuro as coisas pudessem ser melhores.
A vida nova na cidade era puxada, pois a futura empreendedora estudava e cuidava de sua casa, mas nela também havia muitas coisas a aprender. E uma das primeiras coisas que Maria Helena conheceu e aprendeu com as novas amigas foi fazer doces.
Preparar doces é antiga tradição da cidade, fruto da interação com os portugueses que compravam o charque produzido em Pelotas. A produção de doces portugueses entre os pelotenses teria começado por volta de 1860. Já os doces de frutas são herança da colonização alemã na zona rural. Essa combinação de influências fez com que a cidade ficasse conhecida nacionalmente por seus doces tradicionais.
Na cidade do doce, Maria Helena decidiu então que dali tiraria seu sustento. Começou a fazer doces e vender na escola. Os amigos aprovaram, e ela passou a ter uma clientela cativa. Quando terminou o Ensino Médio, em 1998, passou a dedicar mais ao negócio, vender na rua e buscar novos clientes, que foram aumentando.
Com o sucesso das vendas, ela se tornou conhecida na cidade e, por isso, foi chamada pelo Sebrae para participar do projeto do Polo de Doces de Pelotas. Maria Helena ficou bastante interessada, mas tinha uma demanda mais urgente: queria abrir uma empresa.
“O projeto me ajudou a me formalizar e me ensinou muitas coisas importantes como técnicas, cuidados alimentares, sanitários, de higiene. E a partir dali passei a fazer muitos cursos. Tudo que o Sebrae tinha para oferecer, eu fiz. Consegui também um dos meus maiores objetivos que era entrar na Fenadoce, uma feira importante daqui.”
Com a parceria, sua marca Imperatriz Doces Finos não parou mais de crescer. Sua área de produção, que antes era a cozinha de sua casa, passou para uma fábrica que hoje ocupa 1,4 mil metros quadrados.
Ao todo, a empresária produz cerca de 70 tipos de doces. Mas entre eles há alguns que são especiais: Bem-Casado, Quindim, Ninho, Camafeu, Olho de Sogra, Pastel de Santa Clara, Papo de Anjo, Fatias de Braga, Trouxas de Ovos, Queijadinha, Broinha de Coco, Beijinho de Coco, Amanteigado, doces cristalizados de frutas. São os doces tradicionais de Pelotas, que recebem o selo de Indicação Geográfica. Isto é, uma certificação emitida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) que vincula uma região à qualidade ou a características particulares de um produto.
Maria Helena diz que esse reconhecimento da qualidade e da tradição dos doces da cidade também ocorreu por meio do Sebrae, que organizou e qualificou as doceiras, ministrando cursos, adequando e padronizando as receitas, estabelecendo os critérios de qualidade e de boas práticas na produção.
“Dois anos depois do início do processo, recebemos a certificação em 2012, por meio da associação que criamos. Foi um divisor de água para nós, porque o selo mostra a qualidade do produto. Ajudou até na venda de outros doces não tradicionais.”
A empresária diz ainda que a certificação deu visibilidade e credibilidade à sua marca e à produção de outras doceiras. Desenvolveu também o turismo despertou nos visitantes o desejo de conhecer as fábricas de doces.
Até o começo de 2020, a fábrica de Maria Helena produzia em média 100 mil doces por mês, com 30 funcionários. Hoje já são quatro lojas em Pelotas, além dos mais de 30 pontos de venda na cidade, em Santa Catarina e São Paulo.
Com a pandemia, fizemos uma reorganização para não parar. Toda a parte burocrática e financeira passou por mudança. Tivemos de demitir alguns funcionários. Hoje já melhorou 50%. Mas estamos crescendo com delivery e outras iniciativas como pegue e leve. Também aumentamos o marketing na internet.
O momento agora, segundo a empreendedora, é de manter a calma e o foco no trabalho até que a situação volte ao normal. “O maior desafio será manter a qualidade e preço dos produtos com essa elevação dos custos. Vamos ver como fazer isso e manter os clientes. Mas a gente vai sobreviver.”