Socol
Economia & Política Venda Nova do Imigrante / ESCom o apoio do Sebrae, o produto teve a qualidade reconhecida pelo selo de Indicação Geográfica, aumentando o preço, as vendas e as visitas à sua propriedade.
O Sebrae é um órgão que nos ajuda a enxergar o nosso potencial. Foi uma faculdade para nós, porque nos fez crescer muito e valorizar o que fazemos.
Foi na colônia italiana que se estabeleceu na região de Venda Nova do Imigrante (ES) no século XIX que Bernardete Lorenção nasceu, cresceu e vive até hoje. Por lá mesmo ela se casou e, com sua sogra, também da comunidade italiana, aprendeu a fazer o tradicional socol.
O socol é um tipo de embutido, um presunto cru envolvido em uma capa que protege a carne. Antigamente, era feito com carne do pescoço de porco. Mas hoje em dia, para ficar menos gorduroso, é usado o lombo suíno. Para fazer o produto, também é necessário um clima frio que possibilita a proliferação de fungos que são responsáveis por curar a carne.
Assim como a maioria das famílias da região, Bernardete fazia o socol apenas para consumo próprio. “A receita foi passando de pai para filho, e o modo como fazemos hoje tem mais de cem anos. Quando ficava pronto, porque leva de quatro a seis meses de maturação, meu marido levava para petiscar com cachaça ou cerveja.”
Até que, um dia, uma família amiga sugeriu que ela e a sogra fizessem o embutido para vender, já que ia começar um projeto de agroturismo na região. No começo, eram quatro famílias, cada uma fazendo um produto típico da região. A primeira leva de socol foi feita com dinheiro emprestado pelo sogro para comprar os ingredientes.
Durante uma reportagem, um jornalista viu os embutidos pendurados em cima do fogão, comprou dez unidades e levou para a capital, Vitória (ES). “Depois de um tempo, ele ligou para minha sogra, disse que era para a gente fazer mais porque ele tinha vendido tudo. Aí fizemos mais 30 peças. E assim começaram a vir mais pessoas conhecer o que era esse tal de socol.”
Em 1991, um consultor do Sebrae conheceu a propriedade e ofereceu cursos sobre como receber os visitantes na propriedade, valorizando a história da família. A iniciativa consolidou ainda mais o negócio, e ali nascia a parceria com o Sebrae, que está prestes a completar 30 anos.
“Ficamos cerca de dez anos trabalhando na informalidade. Vendíamos sem rótulo, ainda não tínhamos uma marca. Aí, com o Sebrae, fizemos cursos de boas práticas de produção e higiene, de precificação, criamos uma marca e as embalagens dos produtos, tabela nutricional. Fizemos cursos de gestão, de atendimento ao cliente. Participamos de muitas feiras no Brasil todo. E há dez anos, também através do Sebrae, viajamos para a Itália e conhecemos experiências de agroturismo.”
Em 2013, em conversa com os produtores, o Sebrae sugeriu a formação de associação para que o socol ganhasse o selo de Indicação Geográfica. A certificação é o reconhecimento da qualidade de um produto, vinculando-a à região de origem. Ao todo eram dez produtores na época.
“O Sebrae organizou reuniões quinzenais para cuidar dos detalhes de como delimitar a área dos produtores que poderiam usar o selo, definir as normas que eles deveriam seguir e a forma como as propriedades deveriam se adequar à produção artesanal. Foi definida também uma receita que deveria ser seguida. Aí depois de cinco anos conseguimos esse selo.”
Ela diz ainda que a certificação foi responsável pelo reconhecimento mundial do produto. Depois disso, o turismo dobrou, as vendas cresceram significativamente, e o preço também melhorou. “Agora temos muito orgulho de vender não só um produto, mas uma história. A vida melhorou e pudemos dar um futuro melhor para os nossos filhos. E eles agora estão se preparando para levar a tradição adiante.”
Hoje a família de Bernardete produz dois embutidos, o socol e culatello, 18 tipos de antepasto e limoncello. Por semana, são 600 quilos de socol. Além da internet e da propriedade, os produtos são vendidos também no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Bernardete diz que a pandemia impactou muito a região, pois os produtores não puderam mais receber os turistas. Para contornar a situação, ela diz que o Sebrae foi fundamental, pois ensinou-os a divulgar melhor os produtos pela internet e fortalecer as vendas online. Em setembro, segundo ela, as coisas começaram a melhorar com a retomada das visitas. “De setembro até fevereiro, quando pudemos receber novamente os turistas, as vendas foram muito boas. Claro que todos os cuidados de segurança foram tomados para receber os visitantes.
Agora, a produtora espera que todos estejam vacinados o quanto antes para que possam retomar as atividades turísticas com todo o potencial. Ela pretende participar de muitas feiras, assim que elas voltarem, para mostrar e vender seus produtos. Também estão trabalhando para regulamentar a venda do socol fatiado e lançar essa novidade no mercado. Além disso, estão entre as metas fortalecer ainda mais a comunicação digital e lançar um e-commerce.